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Igreja
 
 
06
Ago
Padre Bertolin: São José, Pai no Acolhimento
Padre Bertolin: São José, Pai no Acolhimento

Padre José Antônio Bertolin - Centro de Espiritualidade Josefino-Marelliana – Apucarana, Paraná


O Papa Francisco, no prosseguimento de sua reflexão sobre os títulos por ele dado a São José em sua carta apostólica “Patris corde”, lembra a dimensão da acolhida dele dentro de sua missão de esposo de Maria e de pai de Jesus. Enfatiza que José acolheu Maria sem colocar condições prévias; simplesmente confiou nas palavras do anjo dirigidas a ele, pois tudo o que sabia da lei, devido à nobreza do seu coração, ficou subordinado ao seu amor por ela.


Na verdade, o Papa ressalta a consideração e o respeito de José manifestado à Maria por essa sua atitude dentro de um mundo onde a mulher era considerada um objeto que pertencia ao marido e que o marido podia rejeitá-la por qualquer motivo, sendo na esfera social e religiosa sempre inferiorizada e sujeita a punições e até à pena capital; em suma, era uma escrava. Essa atitude de homem respeitoso e delicado de José pela sua esposa tem muito a ensinar ao mundo de hoje em que paira a violência verbal e física à mulher, vitima de feminicídio e desrespeitada em sua dignidade.


Ao acolher Maria, sua esposa, José teve um comportamento que se expressou no respeito e no valor da pessoa humana; colocou-se como dom para Maria, pois acreditou no seu valor, na sua santidade, no mistério que ela trazia consigo, e, por isso, teve uma atitude por ela de plena atenção e compreensão. O Papa ressalta que “essa atitude acolhedora de São José é um convite a todos nós a receber os outros, sem exclusões, tal como eles são, reservando uma predileção especial pelos mais frágeis, porque Deus escolhe o que é frágil”. Na conclusão de seu raciocínio o Papa diz: ”Posso imaginar ter sido do procedimento de José que Jesus tirou inspiração para a parábola do filho pródigo e do pai misericordioso”.


A atitude de José deve ter marcado profundamente esse momento da vida de Maria, pois muito embora ela fosse a criatura mais perfeita saída das mãos de Deus, a predestinada, a “cheia de graça”, a Mãe do Salvador, não era isenta dos preconceitos da sociedade do seu tempo, da discriminação que lhe era imputada por ser mulher, assim como não foi poupada dos sofrimentos, da “espada de dor que transpassou o seu coração” ao ver o seu amado filho vitima da brutalidade e da incompreensão dos homens sendo pregado na cruz, tonando-se assim a Senhora das Dores.


Maria ao ser acolhida por José sentiu-se profundamente a mais amada, como era a amada por Deus e a bem-aventurada porque acreditou. Maria era, conforme as palavras de Santo Afonso Maria de Ligório, “a mais perfeita entre todas as mulheres, a mais humilde, a mais mansa, a mais pura, a mais obediente e a mais amante de Deus, como nunca houve nem haverá outra entre todos os homens e anjos. Era, pois, merecedora de todo o amor de José”.


Esse comportamento acolhedor de São José para com a sua esposa fez humanamente a diferença na vida da Mãe de Deus, pois prescindindo da fé e da graça que a acompanhava para a vivência de sua maternidade divina, ela sentiu o quanto é importante ser acolhido, ser valorizado como pessoa no relacionamento social. Como Jesus que na sua humanidade sentiu a alegria da amizade de Lázaro e de suas irmãs, sentiu gratidão pelo frasco de perfume precioso derramado em seus pés por Maria Madalena, sentiu a ternura de seu pai José que o acompanhava entre as madeiras da oficina de Nazaré na lide do trabalho, muito mais porque esse amor não foi, segundo as palavras de Santo Afonso Maria Ligório “um amor puramente humano, como o dos outros pais, mas um amor sobre-humano, visto que na mesma pessoa via seu Filho e seu Deus”, ou de sua própria mãe que o acolheu em seu ventre, transmitiu-lhe a vida humana e o acompanhou com amor de mãe até o momento de sua subida para o Pai.


Diante do acolhimento de José podemos também nós perceber como nos sentimos felizes e realizados quando somos respeitados e valorizados, quando recebemos atenção, somos ouvidos ou percebendo no outro uma postura física que nos comunique uma consideração por nós, pelos nossos pensamentos e ações. A atitude de acolhimento de José pela sua esposa leva a pensar que ele “não é um homem resignado passivamente. O seu protagonismo é corajoso e forte”, diz Francisco, pois o acolhimento é um modo pelo qual se manifesta o dom da fortaleza que vem do Espírito Santo.


Ser acolhedor é, portanto, possuir o dom da fortaleza e com este, como ensina o Papa Francisco faz com que “o Espírito Santo liberta o terreno do nosso coração do torpor, das incertezas e dos medos que possam impedi-lo, de modo que a Palavra do Senhor seja colocada em prática, de forma autêntica e alegre. É uma verdadeira ajuda este dom; dá-nos força e liberta-nos de tantos impedimentos”. Ser acolhedor é, portanto, possuir o dom da coragem que nos impulsiona a reconhecer o nosso próximo, particularmente os marginalizados e pobres; isso nos faz ser simpáticos nos ajudando ter o desejo de compreender o outro, de ser sensíveis às suas dores, sofrimentos e sentimentos.


Com a acolhida São José trouxe Maria para mais perto de si, compreendeu a sai situação e embora sabendo que ela era a Mãe de Deus, tinha consciência de que ela tinha algo em comum com ele, ou seja, a sua humanidade. São José não a deixou sozinha, mas a acolheu e a respeitou na sua individualidade e missão, e muito embora os Evangelhos não nos relatem, ele soube escutar o que ela tinha a lhe dizer e soube guardar o segredo de sua maternidade divina em seu coração. A partir daquele momento a sua vida humana de Maria era mais iluminada porque ela passava a percorrer a sua peregrinação na fé juntamente com ele. A atitude corajosa de José para com sua esposa indicou que a sua vida tinha um “recomeço milagroso” e tinha muito mais força para viver a sua missão materna segundo aquilo que lhe indicava o anjo do Senhor.


Como a vida de Maria ficou mais luminosa com a acolhida dela pelo seu querido esposo, também a nossa vida e a de nossos irmãos pode ficar também. Muita bonita a expressão de Francisco: “Deus pode fazer brotar flores no meio das rochas”; Deus pode fazer com que façamos brotar flores na vida dos nossos irmãos com o exemplo da atitude acolhedora de São José, o qual não buscou atalhos, mas enfrentou de olhos abertos o que lhe sucedia “assumindo pessoalmente a responsabilidade” por sua atitude.


Podemos fazer brotar flores na vida dos nossos irmãos com a atitude da acolhida deles em nossas vidas por meio da virtude da fortaleza com um cumprimento, um sorriso, um abraço, um aperto de mão, um reconhecimento de algo bom ou a valorização de uma conversa. A nossa acolhida aos irmãos e irmãs fará com que eles se sentam bem em estar conosco, em conversar conosco e vice-versa. A nossa acolhida aos irmãos e irmãs nos ajudará a ver neles a imagem e semelhança de Deus, ou como quer Jesus, acolher o próprio Deus neles. A nossa acolhida fará com que as pessoas se tornem mais felizes se as consideramos importantes, por isso, qualquer confrade ou pessoa que recebermos em nossas casas deveria receber a mesma consideração que daríamos se recebêssemos um Presidente da República ou o Papa.


Em suma, acolher é proporcionar um gesto de compreensão, respeito, carinho, gentileza e bondade ao outro, por isso nem sempre é fácil praticar essa virtude que São José nos ensina, pois exige que saiamos de nossa zona de conforto e para fazermos isso será muitas vezes necessário fechar a nossa boca e abrir os nossos braços para o confrade, deixando os nossos gestos falarem, sendo fonte de carinho. Será necessário ouvir o outro sem julgamentos, mas coam empatia. Será necessário que individuemos os momentos que o outro está passando sendo um sopro de vida para este que talvez não encontre mais fôlego para lutar.


Em nosso mundo utilitarista que valoriza predominantemente o ganho, a produção, a beleza, o fascínio, a acolhida aos nossos irmãos, que não têm o que dar, será um bálsamo. Nós todos, como cristãos, corremos o perigo de embarcar nessa mentalidade produtivista do mundo; portanto, precisamos estar atentos de não fechamos os olhos aos nossos irmãos, e por isso corrermos o risco de não acolhermos, sobretudo, os mais necessitados de compreensão, carinho e amor, com os idosos em suas solidões, não valorizando, por exemplo, as suas histórias. Precisamos nos lembrar que se em nossas casas houver acolhimento haverá vida, alma, lar, e qualquer alma machucada que por ventura nela houver esta será curada, pois o unguento da acolhida desencadeará um processo de cura a estas pessoas. Foi isto que São José fez: uma pessoa acolhedora, que acolheu, com a sua alma, coração e sua vida, a pessoa de Maria, sua esposa e, com ela, manifestando e evidenciando, todo o seu amor, carinho e atenção.



Fonte: Vatican News

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